Por Catavento, organização integrante da Rede ANDI Brasil no Ceará
Futebol de rua. A primeira imagem que vem a cabeça quando lemos esta expressão são dos jogos de futebol improvisados por crianças onde a rua - ou qualquer outro lugar - vira o campo e as traves são improvisadas com calçados, pedras, tocos de madeira ou o que tiver. Mas para alguns grupos do Nordeste, o futebol de rua é coisa séria. Tanto é que já existe até uma Rede Nordestina de Futebol de Rua.
Para os membros da Rede, o futebol de rua vai além do simples divertimento, é uma oportunidade de formar valores éticos e de direitos humanos nos jogadores. “O esporte é um meio socializador de discussão de problemáticas próprias da juventude”, explica Ciro Santos, professor de educação física do Instituto Formação Centro de Apoio a Educação Básica, localizado no Maranhão. A intenção do Futebol de Rua não é formar atletas, como explica Ciro, mas cidadãos.
Todo o futebol de rua é pensado tendo em vista o bom convívio social dos participantes. No primeiro tempo do jogo, as duas equipes definem as regras da partida de futebol e no final o que definirá o vencedor não são apenas os gols. “Necessariamente, não ganha o jogo quem fez mais gols, mas quem respeitou as regras estabelecidas”, explica Ciro, lembrando do último momento do jogo, quando os participantes discutem os pontos de cada equipe, de acordo com o respeito às regras.
A diferença dessa modalidade para o esporte convencional é notável. Além de não valorizar o esporte como competição, mas como um meio de socialização e de respeito que deve ser construído a partir das regras pensadas pelos times em cada partida, o futebol de rua trabalha com times mistos, com meninos e meninas jogando juntos.
Ciro explica que, no começo, os meninos apresentam resistência a jogar com meninas. “Nós entendemos o futebol, não apenas como um esporte, mas como um bem cultural, que é cheio de preconceitos da nossa cultura, como o de gênero. Nós falamos para os meninos que o esporte é um direito de todos.”
Fabíola Silva, participante do projeto, soube aproveitar esse direito. Ela sempre se interessou por esporte no colégio, e conheceu o futebol de rua através do Projeto Desenvolver. Fabíola, que mora na comunidade de Santa Tereza, em Aracati, município localizado no Vale do Jaguaribe cearense, explica que, diferente de outros grupos, na sua comunidade, não sofreu preconceito dos meninos. “Não foi tanta surpresa pra eles, até porque aqui na comunidade sempre teve mistura de gênero no esporte”, completa.
A jovem viajou para o Chile em uma parceria entre a Rede Nordestina e a Rede Sul-americana de Futebol de Rua. “Amizade, alegria e companheirismo me fizeram ter mais fé no nosso potencial e saber que não importa se ganhamos ou perdemos, o importante é dar a nossa contribuição”, lembra Fabíola de sua experiência em outro país.
Desta experiência, Fabíola explica o que trouxe para seus companheiros de futebol: “Em relação ao que aprendi pretendo repassar para todos e desenvolver atividades como o futebol de rua, que tive o prazer de participar e aprender como jogar um jogo com aspecto diferente, com educação e companheirismo”.
A Rede Nordestina de Futebol de Rua existe desde 2007 e conta com a participação do Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, e Paraíba. Para obter mais informações sobre o projeto, clique aqui e acesse o blog da Rede Nordeste de Futebol de Rua e aqui para conhecer o site da Rede Mundial de Futebol de Rua .
Extraído do site Portal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
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